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quarta-feira, 8 de abril de 2009

Suspiro da Poeta
-Por que suspiras? - Disse a pequena à poeta.
-Pois tudo de mais importante num poeta que tinha em mim se apagou. Porque todos os meus caprichos esvaíram-se e sabe-se lá Deus o que é uma poeta sem seus caprichos.
-O que queres dizer? - Indagou a pequena, que logo pusera os punhos debaixo do queixo, apoiando-os nos cotovelos. - Não te inspiras mais? É isto?
-Oh! Não! Inspiração, tenho eu de sobra; Dos pássaros poetizo o canto; Do sol poetizo o calor; Das árvores poetizo as flores; E dos homens poetizo o amor. Infinita é a inspiração que o mundo trás à mim.
-Pois então, o que é de tão importante que escapuliu das tuas mãos?
E a poetisa voltou a suspirar. - É o amor, pequenina. É o amor.
-Não o possui mais?! Oh! Que dó!
-E é este o problema! O possuo e farto-me dele!
-Ueh! Mas que é que queres fazer comigo! Não entendo mais nada!
-És tão ingênua, como uma flor, e tuas paixões são efêmeras. Logo se vão e logo se vêm. Mas comigo, oh não! Sou madura, já sou moça! E ainda continuo romântica. Ao em vez de encontrar meu rumo, vago a toa por um homem que me rodeia. Encanto-me por cada pedaço daquele corpo e defeitos de sua alma. Sonho com o nosso amor louco e insano, incessante numa noite de núpcias, na madrugada a fora sem rumo ou piedade. Relato em prosa cada movimento de nossos corpos, cada palavra de nossas bocas; torno poesia nossa vida e nosso canto. Até imploro por nossas brigas.
-Sou menina, mas creio que há nada a perder nesta tua bela paixão! Que é que suspiras?
-Pois esta poetisa que te chora o desabafo não tem para quem seus poemas declarar; Como um pássaro, ensaio meu coro sem platéia, na esperança que aquela cadeira seja ocupada. Mas não posso jogar-me aos pés de quem não possuo; de quem não irá aplaudir meu canto. Revelar-me-ei poeta quando este revelar-me o coração; Der-me permissão.
-Que é que farás? Ficarás à espera?
-Claro que hei de agir, porém com sutileza. Apenas deixarei claro que agrada-me a companhia. Como mulher, e como poeta nunca irei permitir a deselegância. Mas enquanto estou a conquistar o coração de meu amado, não há coisa mais a fazer se não deixá-lo de lado e meter-me na vida que antes era minha. Mas sabe-se que só consigo ser poeta quando aquele está em meus pensamentos!
A pequena encolheu-se no colo da poeta e chorou.
-Pobre de ti! Forte que és tu! Oh!...
-Não chore, pequena. Poetas não aprenderam a curar corações, apenas a quebrá-los. Por isso quando apaixonam-se temem até mesmo pronunciar suas paixões. - E suspirou novamente a poeta, concluindo. - Poetas não passam de apaixonados loucos e covardes, escrevendo cartas sem nunca, jamais, enviá-las.

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